segunda-feira, 14 de março de 2011

A angústia


Só que dessa não se morre. Mas tudo, menos a angústia, não? 
Quando o mal vem, o peito se torna estreito, 
e aquele reconhecível cheiro de poeira molhada naquela coisa que 
antes se chamava alma e agora não é chamada nada. 
E a falta de esperança na esperança. E conformar-se sem se resignar. 
Não se confessar a si próprio porque nem se tem mais o que. 
Ou se tem e não se pode porque as palavras não viriam. 
Não ser o que realmente se é, e não se sabe o que realmente se é, 
só se sabe que não se está sendo. E então vem o desamparo de se estar vivo. 
Estou falando da angústia mesmo, do mal. Porque alguma angústia faz parte: 
o que é vivo, por ser vivo, se contrai.






Clarice Lispector

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