quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Amar:



Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...

O amor é quando a gente mora um no outro.




Mário Quintana

Até Pensei...



Junto à minha rua havia um bosque 
Que um muro alto proibia 
Lá todo balão caia 
Toda maçã nascia 
E o dono do bosque nem via 
Do lado de lá tanta aventura 
E eu a espreitar na noite escura 
A dedilhar essa modinha 
A felicidade 
Morava tão vizinha 
Que, de tolo 
Até pensei que fosse minha 
Junto a mim morava a minha amada 
Com olhos claros como o dia 
Lá o meu olhar vivia 
De sonho e fantasia 
E a dono dos olhos nem via 
Do lado de lá tanta ventura 
E eu a esperar pela ternura 
Que a a enganar nunca me via 
Eu andava pobre 
Tão pobre de carinho 
Que, de tolo 
Até pensei que fosse minha 
Toda a dor da vida 
Me ensinou essa modinha 
Que, de tolo 
Até pensei que fosse minha



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Adiamento

        Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
        Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; mas hoje não... Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado, O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... Esta espécie de alma... Só depois de amanhã... Hoje quero preparar-me, Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte... Ele é que é decisivo. Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... Amanhã é o dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo; Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... Tenho vontade de chorar, Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
        Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. Só depois de amanhã... Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana. Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância... Depois de amanhã serei outro, A minha vida triunfar-se-á, Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático Serão convocadas por um edital... Mas por um edital de amanhã... Hoje quero dormir, redigirei amanhã... Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância? Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã, Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo... Antes, não... Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser. Só depois de amanhã... Tenho sono como o frio de um cão vadio. Tenho muito sono. Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã... Sim, talvez só depois de amanhã...
        O porvir... Sim, o porvir...
      Álvaro de Campos

    Sentir tudo de todas as maneiras



    Sentir tudo de todas as maneiras,
    Viver tudo de todos os lados,
    Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
    Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
    Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.

    Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
    Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
    Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
    Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
    Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
    E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.


    Crônica do Amor



    Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

    O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

    Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

    Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

    Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

    Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

    Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
    ódio vocês combinam. Então?

    Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

    Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
    menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

    Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
    este cara?

    Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

    É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
    por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

    Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

    Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

    Não funciona assim. 

    Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
     
    Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
     Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

    AMOR É SÍNTESE




    Por favor, não me analise
    Não fique procurando cada ponto fraco meu.
    Se ninguém resiste a uma análise profunda,
    Quanto mais eu...

    Ciumento, exigente, inseguro, carente
    Todo cheio de marcas que a vida deixou
    Vejo em cada grito de exigência
    Um pedido de carência, um pedido de amor.

    Amor é síntese
    É uma integração de dados
    Não há que tirar nem pôr
    Não me corte em fatias
    Ninguém consegue abraçar um pedaço
    Me envolva todo em seus braços
    E eu serei o perfeito amor.


    Alguém...


    Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...
    E poder ter a absoluta certeza de que esse alguém
    também pensa em mim quando fecha os olhos,
    que faço falta quando não estou por perto.
    Queria ter a certeza de que apesar de minhas
    renúncias e loucuras, alguém me valoriza
    pelo que sou, não pelo que tenho...
    Que me veja como um ser humano completo,
    que abusa demais dos bons sentimentos
    que a vida proporciona,
    que dê valor ao que realmente importa,
    que é meu sentimento...e não brinque com ele."

    É hora de.....


    [...]perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, 
    a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, 
    a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; 
    e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, 
    hão de vos responder: É hora de se embriagar!
    Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, 
    embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas!
    De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha...


    O Amor



    O amor, quando se revela,
    Não se sabe revelar.
    Sabe bem olhar p'ra ela,
    Mas não lhe sabe falar.

    Quem quer dizer o que sente
    Não sabe o que há de *dizer.
    Fala: parece que mente
    Cala: parece esquecer

    Ah, mas se ela adivinhasse,
    Se pudesse ouvir o olhar,
    E se um olhar lhe bastasse
    Pr'a saber que a estão a amar!

    Mas quem sente muito, cala;
    Quem quer dizer quanto sente
    Fica sem alma nem fala,
    Fica só, inteiramente!

    Mas se isto puder contar-lhe
    O que não lhe ouso contar,
    Já não terei que falar-lhe
    Porque lhe estou a falar..

    Tenho tanto sentimento....


    Tenho tanto sentimento
    Que é freqüente persuadir-me
    De que sou sentimental,
    Mas reconheço, ao medir-me,
    Que tudo isso é pensamento,
    Que não senti afinal. 
    Temos, todos que vivemos,
    Uma vida que é vivida
    E outra vida que é pensada,
    E a única vida que temos
    É essa que é dividida
    Entre a verdadeira e a errada. 

    Qual porém é a verdadeira
    E qual errada, ninguém
    Nos saberá explicar;
    E vivemos de maneira
    Que a vida que a gente tem
    É a que tem que pensar.

    Sofremos por quê?



    Definitivo, como tudo o que é simples. 
    Nossa dor não advém das coisas vividas, 
    mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

    Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos 
    o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções 
    irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado 
    do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter 
    tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que 
    gostaríamos de ter compartilhado, 
    e não compartilhamos. 
    Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

    Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas 
    as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um 
    amigo, para nadar, para namorar. 

    Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os 
    momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas 
    angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 

    Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 

    Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo 
    confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, 
    todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

    Por que sofremos tanto por amor? 
    O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma 
    pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez 
    companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. 

    Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um 
    verso: 

    Se iludindo menos e vivendo mais!!! 
    A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida 
    está no amor que não damos, nas forças que não usamos, 
    na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do 
    sofrimento,perdemos também a felicidade. 

    A dor é inevitável. 
    O sofrimento é opcional...



    Sou um guardador de rebanhos


    Sou um guardador de rebanhos,
    O rebanho é os meus pensamentos
    E os meus pensamentos são todos sensações.
    Penso com os olhos e com os ouvidos
    E com as mãos e os pés
    E com o nariz e a boca.

    Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
    E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

    Por isso quando num dia de calor
    Me sinto triste de gozá-lo tanto,
    E me deito ao comprido na erva,
    E fecho os olhos quentes,
    Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
    Sei a verdade e sou feliz.

    segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

    Perfeição...


    Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.



    Fernando Pessoa

    Encontro




    "Eu faço minhas coisas, e você faz as suas.
    Eu não estou neste mundo para viver de acordo com as suas expectativas.
    E você não está neste mundo para viver de acordo com as minhas.
    Você é você, e eu sou eu.
    Se por acaso, nós nos encontrarmos, será lindo.
    Se não, não há nada a fazer".



    Frederick Perls

    Morre Lentamente...



    Morre lentamente, quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música,
    quem não encontra graça em si mesmo.
    Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
    Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
    repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca,
    não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
    Morre lentamente que faz da televisão o seu guru.
    Morre lentamente quem evita uma paixão,
    quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is"
    em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatem o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
    Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
    quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
    Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
    Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
    não pergunta sobre o assunto que desconhece ou
    não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
    Evitemos a morte em doses suaves, recordando que estar
    vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar...




    Pablo Neruda

    quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

    Soubeste, tantas vezes....

    Soubeste, tantas vezes, entregar-se sem arte alguma a quem apenas te soube perder...
    Tantas outras, apanhado no fogo cruzado entre a genialidade e a loucura que te habitam...
    Mas há algo em ti que é maior... mais genuíno... 
    Talvez, tua força em saber deixar-se amar, 
    A capacidade que tens de sublevar a mesmice humana, dos que buscam o amor, mas não transcendem a medíocre orbe do “ego”... 
    Tu, tão ao contrário, nunca está em(si)mesmado... partes sempre do outro... em busca de si....
    Que espaço, que tempo, que laivos lógicos ou ilógicos, quais forças tornam-se concorrentes neste momento de colisão e reconhecimento entre tu e o mundo eu não saberia explicar....
    Acho que esta é a fórmula, ainda não compreendida, do teu tão etéreo apaixonante ser.... 


    (autor desconhecido)

    segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

    Um caminho novo...


    De tudo ficaram três coisas... 
    A certeza de que estamos começando... 
    A certeza de que é preciso continuar... 
    A certeza de que podemos ser interrompidos 
    antes de terminar... 
    Façamos da interrupção um caminho novo... 
    Da queda, um passo de dança... 
    Do medo, uma escada... 
    Do sonho, uma ponte... 
    Da procura, um encontro!

    COMUMENTE É ASSIM



    Cada um ao nascer 
    traz sua dose de amor, 
    mas os empregos, 
    o dinheiro, 
    tudo isso, 
    nos resseca o solo do coração. 
    Sobre o coração levamos o corpo, 
    sobre o corpo a camisa, 
    mas isto é pouco. 
    Alguém 
    imbecilmente 
    inventou os punhos 
    e sobre os peitos 
    fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem. 
    A mulher se pinta. 
    O homem faz ginástica 
    pelo sistema Muller. 
    Mas é tarde. 
    A pele enche-se de rugas. 
    O amor floresce, 
    floresce, 
    e depois desfolha.