sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sentir...


Tantas vezes, tantas, como agora, 
me têm pesado sentir que sinto – 
sentir como angústia só por ser sentir, 
a inquietação de estar aqui, 
a saudade de outra coisa que se não conheceu, 
o poente de todas as emoções… 
Ah, quem me salvará de existir? 
Não é a morte que quero, nem a vida:
é aquela outra coisa que brilha no fundo da ânsia…






Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Urgências da vida...


Um dia tudo isso vai acabar e voltaremos ao ponto de partida...
Então percebo que chega um determinado momento de nossas vidas, que a entrega total faz-se necessário
E precisamos experimentar tudo de todas as maneiras e sentir tudo de todas as formas, sem o menor constrangimento
É preciso entregar-se sem pudor e de preferência, com toda malicia do mundo.
Às vezes, é preciso perguntar a si mesmo
Qual é a minha maior urgência na vida?
É preciso sair da mesmice, surpreender a si mesmo, provar as sensações e situações por mais absurdas que pareçam, as novidades na vida, são essenciais para os amantes do prazer.
Amar com intensidade infinita,
Entregar-se ao fogo das paixões casuais, mesmo que proibidas
Viver cada momento como se fosse o ultimo
Gritar até que alguém nos ouça
Buscar respostas para as perguntas ainda abertas
Fechar feridas ainda não cicatrizadas
É preciso dizer adeus para aqueles que inutilmente ainda nos aguardam
Afinal é extremamente covarde, aquele que deixa alguém esperando, mesmo sabendo que jamais voltara.
É preciso aprender virar as paginas da vida que apresentam pessoas que nos fizeram e ainda nos fazem sofrer, deixando marcas negativas em nossas vidas.
É necessário mesmo que sutilmente, fechar as portas do coração para amores antigos e ausentes...
É inútil deixar portas abertas para aqueles que jamais voltarão...
É preciso chorar todas as dores ainda vivas na alma, é inútil carregá-las mais tempo que necessário.
É preciso levantar depois de ter caído
Sorrir depois de ter chorado
É preciso seguir em frente mesmo estando totalmente perdido e desorientado...
Nesses momentos, que podemos encontrar os maiores tesouros de nossas vidas
Às vezes é preciso fugir de si mesmo, para evitar conflitos internos, mas não por toda a vida, encare-se no momento adequado...
É preciso saber usar palavras duras em momentos delicados
Ausentar-se, mesmo sua presença sendo essencial, deixar saudades e ser lembrado, sempre faz bem ao ego...
Afinal, o tempo esta passando, e não existe nada e ninguém mais intransigente e duro do que os ponteiros da vida
Então divirta-se enquanto você passa, não se prende e não adia momentos...
A vida é a maior de todas as urgências do mundo
E a sua não é diferente.


Samuel Ferreira de Moraes


(SFM)

domingo, 10 de abril de 2011

Ausência



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces 
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. 
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida 
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. 
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. 
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados 
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada 
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. 
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. 
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. 
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. 
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. 
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. 
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. 
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. 
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. 
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. 
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.





Vinícius de Moraes

Dá-me a tua mão













Dá-me a tua mão desconhecida,
que a vida está me doendo,
e não sei como falar - 
a realidade é delicada demais,
só a realidade é delicada,
minha irrealidade e 
minha imaginação são mais pesadas...








C
larice Lispector