quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Os ombros suportam o mundo



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coraçăo está seco.
Em vão mulheres batem às porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussőes dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade, 

Eu não quero o fácil



Eu não quero o fácil, o manco, o maleável.
Não são para mim o claro, o concluso.
Eu quero o amargo, o áspero, o cortante fios das lâminas e o ardor.
Venha o impuro, o dolorido rasgar das entranhas e o derramar do fel garganta abaixo.
Abandonei as amplas claras praças, esquadrinhos, becos, as vielas esconsas inexatas.
Eu sigo no rumo esteiro da incerteza com lascas me ferindo a palma e olho.
Entre cacos e gumes, entre gritos sem respostas.
E nem afinal se estou morrendo.

Deni Gomes

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fecho meu coração.



Hoje, neste ócio incerto
 Sem prazer nem razão , 
Como a um túmulo aberto 
Fecho meu coração.
 Na inútil consciência De ser inútil tudo, 
Fecho-o, contra a violência Do mundo duro e rudo. Mas que mal sofre um morto? 
Contra que defendê-lo?
 Fecho-o, em fechá-lo absorto, 
E sem querer sabê-lo. 






Fernando Pessoa,

domingo, 16 de janeiro de 2011

Quem promete a alguém amá-lo...



Pode-se prometer ações, mas não sentimentos, pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre ou odia-lo sempre ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não esta em seu poder; o que pode perfeitamente prometer são ações que, na verdade, são as conseqüências do amor, do ódio, da fidelidade, mas que também podem provir de outros motivos, pois a uma só ação conduzem a diversos caminhos e motivos.
A promessa de amar alguém sempre significa, portanto: enquanto eu te amar, mostrarei as ações do amor: se não te amar mais, continuarás, no entanto a receber de mim as mesmas ações, embora por outros motivos; de modo que na cabeça dos outros persiste a aparência de que o amor estaria inalterado e sempre o mesmo
Promete-se, portanto, a aparência do amor, quando, sem deslumbrar-se a si mesmo, se jura a alguém amor eterno.




Friedrich Nietzsche, 

Amar é...


Amar é... 
sorrir por nada e ficar triste sem motivos
é sentir-se só no meio da multidão,
é o ciúme sem sentido,
o desejo de um carinho; 
é abraçar com certeza e beijar com vontade,
é passear com a felicidade, 
é ser feliz de verdade!


sábado, 15 de janeiro de 2011

O MISTÉRIO DA MULHER





O MISTÉRIO DA MULHER

ESTÁ EM CADA AFIRMAÇÃO OU 


ABSTINÊNCIA, 


NA MALÍCIA DAS PLAUSÍVEIS 


REVELAÇÕES, 


NO SUBORNO DAS SILENCIOSAS 


PALAVRAS.

Henriqueta Lisboa

A MULHER QUE MENTE



TENHO MEDO DAQUELA QUE NUNCA MENTIU. ELA PODE SER INDIFERENTE, 
SENDO FIEL. 
O AMOR É QUASE SEMPRE ATRAIÇOADO DEMAIS PELA VIRTUDE. 
E A MULHER QUE MENTE É SEMPRE MAIS BELA.



Maurice Magre

RECUSO-ME A ENCONTRAR...


RECUSO-ME A ENCONTRAR ANTIGOS AMIGOS E QUEIMADURAS DE SEGUNDO GRAU.
NÃO QUERO SUBMETER-ME A COMPARAÇÕES NEM CONVENCÊ-LOS DE QUE ESTOU DIFERENTE... SENDO IGUAL.
MANIAS SERÃO VISTAS COMO DEFEITOS. DEPOIS, COMO TRAÇOS DE PERSONALIDADE, ATÉ QUE SEJAM TRANSFORMADAS EM VIRTUDES.
TER SE ACOSTUMADO UM COM O OUTRO NÃO SIGNIFICA QUE AVANÇAMOS.
SEREMOS SEMPRE RESIDÊNCIAS GEMINADAS SE CORRESPONDENDO PELOS MUROS.




Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mil Perdões


Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais
Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim
Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir 
Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair

Chico Buarque

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Caminhos da Vida.


Ele caminha e ignora não perceber o que ainda o corrói por dentro, e caminha uma longa e dura estrada na ânsia de esquecer o inesquecível, e a cada passo força os pés no chão para aumentar as dores físicas e assim substituí-las pelas emocionais que ainda destrói lentamente seu vulnerável coração.
Durante a caminhada quem passar por perto, consegue ouvir sussurros, lamentos e às vezes ouve-se um cântico solitário indecifrável, tudo isso na ânsia de evitar qualquer tipo de pensamento, que são sempre os mesmos.
Nessa caminhada sente-se muita sede, mas não é de água, a fome sentida durante o percurso é incalculável, mas também não é de comida, nada é concreto nessa caminhada é tudo muito confuso e subjetivo.
Ele sabe que já se passaram horas e horas, mas nada conseguira fazê-lo parar, o vento se torna aliado, a estrada sua grande companheira, e a cada passo não há nenhuma expressão facial tudo se resume em passos fortes que se ouve ao longe, passos seguros e sem destino na ânsia de encontrar respostas que não existem. E quem passa ao lado nem ousa contestá-lo, e a olhares compassivos em sua direção ou perguntas sobre o porque de uma caminhada tão longa, Ele com seus olhos tristes e vazios fixam em direção ao desavisado que o questionava, que constrangido logo emudece e sai apoiando e entendo cada passos e lagrimas daquele homem ferido que a cada curva, tenta deixar suas tristezas pelas estradas da vida.





Samuel Ferreira

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Tristeza


Tristeza é quando chove
quando está calor demais
quando o corpo dói
e os olhos pesam
tristeza é quando se dorme pouco
quando a voz sai fraca
quando as palavras cessam
e o corpo desobedece
tristeza é quando não se acha graça
quando não se sente fome
quando qualquer bobagem
nos faz chorar
tristeza é quando parece
que não vai acabar



domingo, 2 de janeiro de 2011

Apesar de.....


... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso.



Tempo


Faz uso do tempo, não deixes que a vantagem fuja;
A beleza em si não deve ser desperdiçada;
As belas flores que não são colhidas em seu viço
Apodrecem e consomem-se em pouco tempo.



(Shakespeare)

sábado, 1 de janeiro de 2011

Eu, o vento

Eu, o vento, que sou calmo e violento, sou vendaval e brisa que a mercê da vida, às vezes sou conforto, às vezes incômodo. Às vezes paz, às vezes caos.

Eu, o vento, que sou incolor e frio, sou calor e sangue, que a mercê da vida, às vezes sou dor, às vezes rotina. As vezes sou morte, às vezes vida.

Eu, o vento, que sou órfão e só, sou carinho e carente, que a mercê da vida, às vezes sou colheita, às vezes plantio. Às vezes sou notado, às vezes esquecido.

Eu, o vento, que sou força e anemia, sou opressor e vítima, que a mercê da vida, às vezes sou vento, simplesmente.